Em 2000, Julia Quinn publicou o primeiro livro da série Os Bridgertons, O duque e eu. Vinte anos depois, a famosa série de romance de época - composta por 8 livros e um extra de epílogos - sai dos papéis e se torna a mais nova série produzida pela companhia Shondaland, fundada pela famosa escritora e produtora Shonda Rhimes (Grey’s Anatomy, How to get away with murder, Scandal).
Bridgerton é ambientada na Inglaterra regencial, no século XIX, e iremos acompanhar a vida dos integrantes da família Bridgerton, composta por Violet e seus oito filhos.
Em sua primeira temporada, temos um maior foco na história de Daphne, a primogênita da família. Daphne é apresentada à sociedade na nova temporada e está em busca de um bom marido e amor verdadeiro. Como se não bastasse toda a expectativa da sociedade, começa a correr um periódico com as maiores fofocas da temporada, criado pela misteriosa autora chamada Lady Whistledown.
Além da trama de Daphne, podemos acompanhar outros personagens da série, como a trama de seu par romântico, o duque de Hastings (ou mais conhecido como Simon), família Bridgerton, familia Featherington e a rainha Charlotte, além de todo o mistério por trás de Lady Whistledown.
"Nós escolhemos nos amar todos os dias. É uma escolha, querida, e nunca é tarde demais para fazê-la"
O que pode esperar ao assistir Bridgerton? Muito romance, drama e cenas eróticas (a indicação etária é de 16 anos), além de um elenco carismático e cheio de química, que nos envolve na história e faz com que os episódios passem rápido, mesmo com duração média de 1h. Com muito cuidado aos detalhes, ambientação e na seleção do elenco, a produção buscou representar a época, mas adaptar algumas questões para modernidade, como atores negros assumindo título de nobreza, personagens LGBT e debates sobre a mulher na época.
Análise com spoilers
Antes de começar, quero dizer que já li todos os livros da série, mas eu busquei pensar como leitora que gosta dos livros, mas também me colocar como se fosse telespectadora que não conhecia a história, ok? Então vamos lá.
Primeiro: precisamos entender que há uma grande diferença entre o processo de um livro e de uma série ou outra arte cênica. Os livros trabalham com palavras, diálogos, pensamentos e uma possibilidade de estar dentro da mente dos personagens, além da imaginação única de cada leitor (isto é, todo mundo imagina diferente). Entretanto, a série precisa trabalhar com o “ver” do telespectador por meio de ações, já que não conseguimos ler a mente dos personagens. Então, os formatos são muito diferentes e, consequentemente, a experiência será distinta, por mais que seja a mesma história.
Segundo: é uma adaptação. Ao comprar os direitos da história da Julia Quinn, a produção tem direito de fazer as mudanças para melhor se adequar ao meio que será apresentado. O livro tem 288 páginas e a série tem oito horas de duração, aproximadamente. A dinâmica é diferente, o livro pode ter menos cenas “movimentadas”, se preocupando com os detalhes do acontecimento, pensamento e descrição para a imaginação do leitor; contudo, uma série comercial tem que ser dinâmica para cativar o telespectador, então é preciso realizar mudanças, eliminação e acréscimos para que isso ocorra.
Com tudo isso, é preciso entender que, apesar de focar no casal principal, a série aborda todos os personagens e cada um já tem sua importância e eles vão se desenvolvendo no decorrer da série e das temporadas, sendo demonstrado principalmente pelas ações e pelos acontecimentos no qual estão envolvidos.
Anthony: o irmão mais velho, protagonista do segundo livro, foi um dos personagens mais criticados pelas mudanças de comportamento e atitude, por ser mais machista, um pouco menos dedicado à felicidade da família em comparação aos livros e ele teve uma longa relação com Siena (se diferenciando dos livros, pois ele era visto como um Libertino com L maiúsculo, que nunca se apaixonou).
No começo, também fiquei um pouco incomodada, mas com o decorrer dos episódios, comecei a refletir se talvez o amadurecimento do personagem não será melhor abordado na série depois da Siena ter pedido para ele esquecê-la. Vimos um Anthony perdido e sem entender o seu papel como visconde. Provavelmente, na segunda temporada iremos ver o amadurecimento do personagem tanto com seu título e responsabilidade, quanto no aprendizado sobre o amor.
Benedict: O personagem não teve tanto aprofundamento como alguns outros, mas conquistou muitos por ser divertido, mais leve e um libertino como Julia Quinn dizia em seus livros. Apesar disso, vimos algumas referências do que podemos esperar na sua história - como o desenho e o diálogo sobre coragem de viver fora das tradicionais expectativas sociais.
Colin: Durante os episódios, foi o personagem que eu fiquei mais incomodada nas mudanças, mas ao terminar, pensei em que toda a sua relação com a Marina foi importante para deixá-lo de ser tão ingênuo sobre o amor e se tornar um viajante pelo mundo e que tem receio de casamento - já que na série ele foi enganado no passado -, então possivelmente iremos ver a cada temporada ele se tornando mais parecido com o personagem que conhecemos, além de já nos dar algumas referências do seu romance.
Um adendo sobre a Marina, eu achei genial como eles conseguiram nos apresentar o Sir Phillip e como será uma ótima conexão no decorrer das temporadas. Por mais que alguns momentos tenha sido difícil vê-la agindo com o Colin e com a Penélope, é compreensível as suas atitudes buscando o melhor para si e seu bebê, além de ter adicionado um maior drama na temporada.
Eloise: ficou conhecida como a “militante” da série, mas acredito que ela foi a principal personagem a trazer alguns questionamentos de como a mulher era vista e tratada naquela época, além de mostrar a sua luta por querer ser quem ela é e fazer o que realmente quer, não o que a sociedade impõe (e, honestamente, até hoje estamos lutando com isso né? Não nas proporções do passado, mas a luta ainda está presente).
Francesca, Gregory e Hyacinth: Infelizmente não tivemos tanta presença dos personagens e não os conhecemos devido seus livros serem os últimos e a idade deles é distante dos irmãos mais velhos. Acredito que para deixar menos confuso e focar nas primeiras histórias, decidiram ter menos presença dos personagens no momento.
Daphne e Simon, o casal principal: Eu amei e vi muita química entre eles, além de ter sido bem desenvolvida a relação deles, seguindo bastante o livro e melhorando alguns aspectos (em minha opinião, já que era um dos livros que menos me apeguei ao casal, mas isso mudou na série).
Além disso, a representação dos negros na série foi muito boa por realmente ter vários personagens e de diferentes títulos, além do co-protagonista ser um duque negro. Infelizmente, muitas pessoas não aceitaram isso muito bem, mas é preciso continuar a mudar como representamos as diferenças na arte, principalmente na ficção, onde há uma abertura criativa para realizar mudanças (não podemos apenas representar, mas dar voz às diferenças). E uma curiosidade: Vocês sabiam que a rainha Charlotte foi a primeira rainha da Inglaterra com descendência africana?
Não dava para não vir falar sobre a polêmica cena do livro O duque e eu. A produção tomou a decisão de continuar com a cena do abuso com algumas adaptações, por fazer parte da jornada do casal.
A arte representa a vida, ela é capaz de abordar sobre todos os assuntos e tem temas que não são confortáveis de se falar, mas que precisam ser apresentados. Depois da cena, não falaram mais sobre isso, assim como no livro, mas buscaram amenizar a cena (ainda sendo incômodo).
Não tem problema repudiar (e está totalmente certo/a em repudiar) a atitude da personagem e continuar gostando da série, do livro ou da Daphne, só é preciso criar consciência do que está certo ou errado e como não agir na sua vida.
Outros personagens ganharam destaque na temporada, como a história de Penélope e a família Featherington, como a rainha Charlotte lidava com a doença do rei George III, além de maior participação da Lady Danbury.
Para finalizar, achei interessante a ideia de mostrarem quem é a Lady Whistledown, visto que seria muito fácil achar o spoiler na internet. Acredito que nas próximas temporadas irão mostrar mais como a Lady Whistledown trabalha e como as pessoas ao seu redor reagirão ao saber.
"O fato de algo não ser perfeito não o torna menos digno de amor"
Concluindo, acredito que Bridgerton foi uma ótima adaptação, pois continuou com a essência de Os Bridgertons, mas deu uma modernizada e tornou a história mais dinâmica, além de ter uma maior presença de outras histórias e personagens, conseguindo relacionar melhor as tramas.
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