Julgamento social, marginalização e exclusão são decorrentes discussões na cultura, mas até hoje temos esses problemas na sociedade, quando isso vai acabar?
Muitas
vezes, quando vamos discutir sobre a exclusão social pela determinação de uma
beleza padrão, pensamos primeiramente no personagem Fera, do filme A Bela e a
Fera, que lançou em 1991 pela Disney e hoje é considerado um dos clássicos
filmes do estúdio. A história é bela e realmente apresenta essa exclusão, mas
hoje eu quis pegar outros dois personagens que retratam (talvez, mais que a
Fera) o julgamento social àqueles que aparentam ser diferentes de nós: O
Fantasma Erik e Quasimodo.
Ao
reassistir a adaptação da obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, sabia que
precisava discutir sobre a exclusão e marginalização do fantasma Erik. E, ao
pensar nesses tópicos de discussão, lembrei de um personagem que marcou muito a
minha infância e de muitos, mas que acabamos deixando de lado e não falando
tanto desse personagem – assim como a história -, que é o Quasimodo, de O
Corcunda de Notre Dame, escrito por Victor Hugo e adaptado em diversas mídias,
seja em quadrinhos, filmes, peças teatrais ou animações.
Fantasma Erik - O Fantasma da Ópera
Para
quem não sabe, O Fantasma da Ópera conta a história de um misterioso fantasma
que mora no Palais Garnier - a principal casa de ópera de Paris -, também
conhecido como “anjo da música” que guia a jovem Christine a cantar melhor e ir
além de uma bailarina nas peças. Em seu momento de destaque, Christine revê
Raoul, uma antiga paixão de infância, provocando a ira do fantasma e revelando
mistérios do passado.
Eu já
fiz uma interpretação do significado do triângulo amoroso presente na história
(se quiser conferir, só clicar aqui e ser feliz!) e sabia que precisava falar
em outro texto sobre o Erik, o protagonista da obra, porque ele deveria ser
considerado um ““vilão”” por suas atitudes ao decorrer da história, mas a cada
cena, vamos nos aproximando e desejando o melhor para o fantasma e quando você
vai ver, está se emocionando pelas suas dores e querendo abraçá-lo e
confortá-lo ao máximo.
A
história dele é o seguinte: Erik nasceu deformado e a primeira peça de roupa
que ele recebeu foi algo para esconder sua deformação. Na sua infância, ele
foge de sua família - que o desprezavam pela sua aparência - e junta-se a um
grupo de ciganos e é ai que a história muda entre o livro, os musicais e outras
adaptações - se muda para a Pérsia e lá ele aprende seus talentos e depois
volta para Paris ou ele é uma atração no circo organizado por ciganos, ele
apanha diariamente e é considerado uma aberração, até que ele foge para o porão
do Palais Garnier -. Mas resumindo: Os pais nunca o amaram, ele foi desprezado desde
a sua infância e ninguém nunca teve compaixão por ele, até que chega Christine,
a primeira pessoa que o escuta, mesmo sem vê-lo, como ele mesmo fala durante a
música No one would listen (cena deletada do filme de 2004, confira aqui).
“Ninguém ouviria
Ninguém.. mas ela,
Ouviu como somente um proscrito ouviria.
Envergonhado na solidão..
Escondido pela multidão..
Eu aprendi a ouvir
Em minha obscuridade, meu coração ouviu a música.
Eu quero ensinar o mundo a se erguer e alcançar o topo
ninguém ouviria”
(Trecho de No one would listen)
O
personagem tem muito talento, mas nunca teve a oportunidade de ser prestigiado
pela sua música, só amedrontado pela sua aparência. É ai que vem a
marginalização, pois não interessa toda a sua genialidade, ele não conseguiria
ser “alguém” perante a sociedade porque não segue o padrão e isso faz com que
ele vá para a margem, fique escondido no porão da casa de ópera e,
principalmente, escondido atrás de uma máscara.
Essa
marginalização faz com que ele comece a ter ações adversas e impetuosas, mas no
momento em que ele vê seus sentimentos sendo retribuídos, conseguimos conhecer
a verdadeira face do personagem, uma pessoa – que assim como todos nós – só
queria ser amado e compreendido.
Quasimodo – O Corcunda de Notre Dame
Se
você nunca assistiu ou leu essa clássica obra de Victor Hugo, você tem que
saber que O Corcunda de Notre Dame conta a história de Quasimodo, um corcunda
(considerado um “quase monstro”, por isso o seu nome), que perde os pais bebê e
vai morar – aos cuidados de Frollo, o juiz da cidade e assassino da mãe de
Quasimodo – nas torres de Notre Dame, longe de todo o contato humano até os 20
anos, até que há uma festa na cidade e ele decide fugir. Nessa fuga, ele
descobrirá que o mundo não é fácil, que as pessoas podem ser más, mas que têm
pessoas boas e que vale a pena lutar.
Assim
como O Fantasma da Ópera, a obra é complexa e tem vários assuntos que precisam ser
debatidos – envolvendo principalmente o vilão da história, Frollo – e eu
pretendo escrever sobre isso em breve, mas hoje irei focar apenas no nosso
protagonista que nos conquista desde o primeiro momento. Ele nunca teve contato
com as pessoas, não sabe a sua verdadeira história, então ele é um garoto
tímido, desajeitado, infantil e que acredita em seu “mestre” - que diz que ele
precisa ter medo das pessoas -, mas tem o desejo de estar com elas, de viver
como elas.
“[Frollo:]Lembre-se do que te ensinei, Quasímodo
Você é deformado
[Quasímodo:] Sou deformado
[Frollo:] E você é feio
[Quasímodo:] E eu sou feio
[Quasímodo:] E eu sou feio
[Frollo:]E esses são crimes
Para os quais o mundo
Mostra pouca piedade”
(Trecho de Out There)
A
marginalização do personagem também está muito presente nessa história, porque
o Quasimodo observa toda a Paris apenas nos altos, a partir de suas torres. De
início, há um conformismo vindo dele por ele mesmo se achar um monstro e uma
ignorância referente ao mundo, mas no momento em que ele conhece Esmeralda, ele
começa a se enxergar e a superar barreiras pela amizade e é no momento que ele
se aceita, que as outras pessoas começam aceitá-lo, amá-lo e compreendê-lo.
E o que nós temos a ver com tudo isso?
É
fácil falar de obras, de personagens fictícios que sabemos toda a história de
vida, a ter empatia por eles. Mas já parou para pensar se você respeita e tem
empatia por aquela pessoa diferente de você? Aquela pessoa que os outros
criticam? Aquela pessoa que não tem a beleza padrão considerado pela sociedade?
Aquela pessoa de outra classe social ou orientação sexual ou outra cor ou, até
mesmo, outro sexo?
Já
parou para pensar qual é a sua empatia referente ao outro? É muito fácil
apontarmos, criticarmos e – mais fácil ainda – excluirmos alguém por ser
diferente, por não viver no padrão que decidiram que seria o padrão, o difícil
é olhar de verdade, respeitar, amar, admirar alguém pelo o que realmente é, não
pelo o que aparenta ser.
Há
vários Fantasmas Eriks, Feras, Quasimodos no nosso mundo e, na verdade, até
mesmo nós. Todos nós somos diferentes e únicos e, contrariando as sociedades
vilãs apresentadas nessas histórias, tenha empatia por todos, seja gentil. Como
R.J. Palacio falou em Extraordinário, “quando tiver que escolher entre estar
certo ou ser gentil, escolha ser gentil”.
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