Até onde podemos julgar uma escolha como certo ou errado?

O Fantasma da Ópera, lançado em 1910, debate vários aspectos sociais e hoje vamos conversar sobre a metáfora da escolha a partir do triângulo amoroso

O fantasma da ópera

Criado por Gaston Leroux, o livro O Fantasma da Ópera já teve cinco filmes adaptados desde 1925 e inúmeras produções musicais nos teatros de diversos países, se tornando até hoje o musical com maior tempo em cartaz na Broadway.

Em 2005, o musical O Fantasma da Ópera fez um grande sucesso nos palcos brasileiros e no dia 01 de agosto de 2018, as cortinas se abriram novamente para a história de Christine, Erik e Raoul.

Para quem não sabe, O Fantasma da Ópera conta a história de um misterioso fantasma que mora no Palais Garnier - a principal casa de ópera de Paris -, também conhecido como “anjo da música” que guia a jovem Christine Daaé a cantar melhor e ir além de uma bailarina nas peças. Em seu momento de destaque, Christine revê Raoul, uma antiga paixão de infância, provocando a ira do fantasma e revelando mistérios do passado.

A obra tem diversas interpretações e discussões até os dias de hoje, envolvendo principalmente o protagonista - o Fantasma -, seu relacionamento com Christine e o triângulo amoroso ao redor de toda a história.

Na primeira vez que assisti ao filme O Fantasma da Ópera (versão de 2004), eu acreditava que era um musical que focava nos problemas do fantasma Erik e o triângulo amoroso trágico que está presente desde o começo do filme, mas ao assistir novamente comecei a ter outra visão da história, principalmente do triângulo, não focando tanto no romance, mas sim na autodescoberta da Christine e nos seus embates internos.

A protagonista era filha de um renomado violoncelista e desde muito nova teve a música presente em sua vida, pois retomava a paixão do pai e a sua ligação com ele. Quando está prestes a falecer, o pai diz que Christine terá um anjo da música que irá protege-la e a única pessoa que teve essa relação de proteção com ela foi o pai, isso faz com que, no momento em que o fantasma Erik começa a conversar com ela e treiná-la, ela retoma o sentimento de proteção e uma aparente aproximidade com o pai, já que a música era vínculo muito forte entre eles.

Além disso, o Fantasma é a personificação da música, da arte. Isso deixa transparecer em várias cenas, mas principalmente entre as músicas Phantom of Opera e The Music of the night.

- Christine -
“Eu sou a máscara que você usa...
- Fantasma -
Sou eu quem eles ouvem...”
(Trecho da música Phantom of Opera)

"Suavemente, primorosamente a musica vai acariciá-la
Ouça-a, sinta-a, secretamente possuindo você
Abra sua mente, liberte as suas fantasias!"
"Só assim você poderá pertencer a mim"
"Deixe o sonho começar, deixe que o seu lado sombrio seja vencido
Pelo poder da música que eu componho
Pelo poder da música da noite
Somente você
Pode fazer com que a minha canção alce voo
Ajude-me a fazer a musica da noite"
(Trechos retirados de The Music of the Night)

Isto é, Erik é a própria arte e é necessário de uma artista (no caso, a Christine) que o escute para propagar a arte, a si mesmo, já que a sociedade não o aceita pela sua aparência exterior. Isso faz com que o Erik seja o lado artístico da Christine, da escolha da arte, de continuar cantando e vivendo da música, assim como o pai.

Em contrapartida, temos Raoul, que também remete a infância e, consequentemente, ao seu pai. Ele foi uma paixão de infância de Christine e no primeiro momento ele não a reconhece, apenas depois de sua apresentação musical (Think of me) que ele se encanta ao vê-la. No contexto, Raoul seria o lado mais emocional da Christine, que foi representado a partir do amor, e a fuga da vida artística, vivendo no conformismo proposto pelo “herói”, como fica bem representado na música All I ask of you.

“Eu estou aqui, nada pode te ferir
Minhas palavras irão te aquecer e te acalmar
Deixe-me ser sua liberdade
Deixa a luz do dia secar suas lágrimas
Eu estou aqui, com você, ao seu lado
Pra te guardar e te guiar”
(Trecho de All I ask of you)

Ou seja, o triângulo amoroso representa o debate interno da Christine em continuar com a música ou fugir da vida artística e viver no conformismo. No decorrer da história, vemos que muitas de suas escolhas são feitas a partir do passado voltado ao seu pai e na cena do cemitério, ao ver o túmulo de seu pai e conversar com ele, é um momento que a personagem se desprende de suas escolhas baseadas em seu pai e decide começar a viver no presente, olhando para o futuro.

Assim como Christine, nós estamos sempre lidando com escolhas e dilemas que podem mudar a nossa vida e muitas vezes buscamos escolher a mais confortável e aquela que nos prende a algo ou alguém que foi bom no passado, mas precisamos viver no presente, realizando escolhas que sejam a melhor para o agora e, quem sabe, para o amanhã.

Não há um certo ou errado (ou seja, as discussões da escolha da Christine serão eternamente discutidas), as escolhas são pessoais porque ninguém sabe o que realmente somos a não ser nós mesmos.

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